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quinta-feira, 10 de março de 2011

João Ninguém (Alguém) Martins - Parte 3


Depois da exposição de 1948, na Sala de Exposições "O Primeiro de Janeiro", em Coimbra, Portugal, e em seguida no Cassino da Figueira da Foz, em Figueira da Foz, onde vendeu praticamente todas as obras, o mestre João Martins começou a se preparar para a próxima. O sucesso da primeira foi tão grande que foi convidado, novamente, a expor na sua cidade natal. E ele não tinha 20 anos ainda.

Jornal "O Despertar" (23/02/1949), Ano XXXII, Nº 3.225. O nome do meu pai saiu errado (José ao invés de João Martins)


Mas obras de arte não surgem da noite para o dia - afinal, artistas são movidos pela inspiração. Para eles, a criatividade é como o ar que respiram. E ela surge num insight - num momento único, que, aliás, pode ou não ficar para a eternidade.

Isso, obviamente, depende da sensibidade de quem tiver o prazer de observá-la no futuro. Para pessoas sem sensibilidade, como o bilionário Eike Batista, por exemplo, pode significar apenas lixo (entulho) - principalmente se não puder ser transformada em cifrões.

Não é a toa que o empresário continua sendo, segundo a Forbes, o oitavo homem mais rico do mundo - com uma fortuma de US$ 30 bi. Mas eu pergunto: "Às custas de quê?". Dizem que para chegar a esse patamar, ele passou como uma retroescavadeira em tudo o que viu pela frente, inclusive o meio ambiente.

Fico imaginando o valor irrisório, em relação à sua fortuna, que seria necessário gastar para remanejar os painéis de azulejos pintados à mão, em 1960, por mestre João Martins, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, entre outras preciosidades que provavelmente foram destruídas no local.

Isso sem falar que grande parte dos recursos da reforma do edifício, R$ 147 milhões, saiu do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), dentro da linha ProCopa Turismo, destinada à reforma e construção de hotéis para a Copa do Mundo de 2014.

Para amenizar o fato, a assessoria do Hotel Glória informou que as obras de arte destruídas foram fotografadas - grande consolo! E que toda a reforma contou com historiadores, restauradores, engenheiros e arquitetos (fico imaginando onde aprenderam a profissão).

Diante desse caos, não entendo a classe artística brasileira, tirando as exceções, é claro, que simplesmente se calou diante da destruição do Teatro Glória, construído em 1970, dentro do local - por onde passaram grandes nomes. Prefiro não pensar que esse silêncio seja ocasionado por interesses próprios de alguns. Ou melhor dizendo: o patrocínio do bilionário a quem, claro, interessa (ou vice-versa).

Mas voltando ao mestre João Martins...

A segunda exposição de sua vida foi realizada em 1949 - portanto, um ano depois da primeira. E mais uma vez a mostra contou com a boa vontade de alguns doutores da Universidade de Coimbra, com conceitos bem diferentes de Eike Batista.

...nada tenho que especificamente me qualifique para o papel que aqui estou a desempenhar: nada sei de pintura, sinto-a, apenas, e isso continua a bastar-me para meu governo... (Doutor Paulo Quintela durante discurso de abertura da primeira exposição).

Mestre João Martins preparando-se para a segunda exposição - momentos de inspiração

Por isso, para o mestre João Martins o ano de 1948-1949 foi de muita inspiração. A segunda mostra na Sala de Exposições "O Primeiro de Janeiro", em Coimbra, foi um sucesso. Foram expostos nove óleos, trinta aquarelas e seis desenhos (e praticamente todos foram vendidos). Obras que ainda estão enfeitando paredes de algumas casas lusitanas - infelizmente não podemos falar o mesmo dos painéis destruídos no Hotel Glória, que ficaram ali, preservados, por 51 anos, até a chegada fatídica do empresário.


Folheto da segunda exposição de mestre João Martins na Sala de Exposições "O Primeiro de Janeiro", em Coimbra


Por isso, para que fatos como esse não ocorram mais no Brasil, insisto na campanha DIGA NÃO À DESTRUIÇÃO DE OBRAS DE ARTE, que agora já conta com abaixo-assinado (onde não é obrigatório colocar os dados, apenas o nome e o e-mail). Meu objetivo é conseguir o máximo de assinaturas possíveis e, depois, levar o documento até Brasília e emplacar uma lei mais específica contra a depredação de nosso patrimônio histórico-cultural.

Lembre-se: se você é um artista, um dia a sua obra de arte também pode encontrar um Eike Batista pelo caminho e ir parar no lixo. Então, se você acredita na eternidade da arte, participe e DIGA NÃO À DESTRUIÇÃO DE OBRAS DE ARTE repassando para todos a hashtag #AzulejosHotelGlória, no twitter, ou os posts do Facebook.





Arte final de Carmem Tristão

Contamos com a sua participação.













segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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Quero agradecer aos twitteiros e facebookeiros que já aderiram à campanha DIGA NÃO À DESTRUIÇÃO DE OBRAS DE ARTE. Provavelmente, nem todos estão aqui. Pois é impossível fazer esse clipping. Os que estão, foram os que enviaram mensagens diretas. Peço desculpa, desde já, se esqueci alguém (mas sou uma pessoa só, risos). Mas é só me falar e pronto!

Lembre-se, quem estiver, e não quiser fazer parte, é só me avisar. Quem já faz parte, mas não está aqui, também pode me avisar. E quem ainda não faz, peço, gentilmente, que se engaje.

Vamos tentar criar uma lei mais específica que impeça a destruição de nosso patrimônio-cultural. Depois, a gente manda para Brasília.

Sua participação é muito importante. Ela pode ser feita pelo Twitter
(pela hashtag #AzulejosHotelGloria), pelo Facebook, pelo meu e-mail hgloriax@gmail.com ou por aqui (nos comentários).

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Descaso nas artes. Obras de arte são destruídas no Hotel Glória, do milionário Eike Batista

CARTA ESCRITA À ASSESSORIA DE IMPRENSA DO HOTEL GLÓRIA

Meu pai, o artista plástico João Martins, sempre disse: "Minha filha, dinheiro não significa cultura".

Ontem, diante da triste notícia que recebi, tive certeza disso. A assessoria do milionário Eike Batista, que comprou o Hotel Glória, no Rio, admitiu (após uma nota que saiu na coluna Victor Hugo, do jornal A GAZETA, no dia 25/01/2011, informando que a família Martins estava atrás de notícias das obras) que, realmente, os seis painéis de azulejos pintados à mão pelo meu pai, em 1960, a pedido do senhor Eduardo Tapajós, não "puderam ser mantidos no Hotel Glória". Por e-mail, a assessoria alega que "por estarem chumbados em paredes de concreto não puderam ser removidos". Portanto, a obra de arte foi, simplesmente, destruída.

Guardo, até hoje, o cartão-postal que meu pai escreveu para minha mãe, quando estava colocando os painéis no Hotel Glória. Ainda novo, recém-chegado de Portugal, dizia: "Estou sendo tratado como rei, não se preocupe".

No começo de 2008, estive pela última vez no Hotel Glória, visitando o Salão Rugendas, e todos os painéis estavam lá, preservados. Impecáveis. Como mostram as fotos. Os painéis pintados à mão - e queimados no forno - pelo meu pai na cerâmica da qual era dono em São Paulo, entre as décadas de 1960 e 1980 - conhecida como Atelier Artístico Martins, no Morumbi - ficaram no Hotel Glória por mais de 50 anos.

Minha alma dói diante de tanta falta de sensibilidade (até porque, desde o começo das negociações para a venda do imóvel, entrei em contato várias vezes com as assessorias, não só do Hotel Glória, mas também do barco Pink Fleet, que pertence ao milionário. Inclusive escrevi um e-mail para o próprio Eike Batista.

Caso tivessem me dado retorno, certamente o destino dos painéis seria outro. Custo a acreditar que as obras não pudessem ser removidas (tenho certeza de que se meu pai estivesse vivo, certamente saberia como retirá-las das colunas, até porque era um mestre nessa e em outras artes).

Ontem (31/01/2011), saiu mais uma nota na coluna Victor Hugo informando sobre a destruição dos painéis. Fico aqui a imaginar uma marreta quebrando tudo, sem piedade.


Trajetória

Seria difícil, em poucas linhas, contar a história de meu pai, um português que veio de Coimbra, para o Brasil, em 1954, e que já nasceu com o dom das artes. O que posso dizer é que durante as décadas de 1960 e 1980 ele fez vários trabalhos, principalmente em São Paulo, para a sociedade paulistana, incluindo Juscelino kubitschek, Ulisses Guimarães, Olavo Setúbal, o playboy Baby Pignatari - que na época era casado com a princesa Ira de Furstenberg -, e muitos outros. Também trabalhou um tempo com Burle Marx, além de ter trabalhos em outros lugares do Brasil. Também foi diretor artístico da cerâmica Ornato, em Vitória, e da cerâmica Eliane, em Criciúma, onde deixou centenas de trabalhos.

Meu pai não era, com certeza, um empresário, tanto que tudo que ganhou perdeu. Tinha alma de artista. Ele gostava mesmo era de se trancar e fazer arte (cerâmica, pintura em telas, esculturas, entre outras). No final da vida, era só o que fazia. Mas, já desiludido com a desvalorização da arte, deixou uma carta, onde comunicava aos filhos que todas as obras feitas por ele nos últimos anos não deveriam ser vendidas ou doadas, mas permanecer com os cinco herdeiros.

Por isso, hoje, meu pequeno apartamento parece uma galeria de arte (nem tenho onde colocar tantas obras). Mas, pelo menos, elas estão aqui, preservadas. Na verdade, tem uma frase que certa vez meu pai me disse que resume bem sua alma de artista:

"Minha querida quando vendo uma obra, é como se estivesse vendendo um filho". Alguém assim, vamos concordar, jamais saberia mensurar em cifrões o seu trabalho. Era apenas pura inspiração. Arte pela arte.

Os painéis do Hotel Glória eram apenas uma parte do acervo de mestre João Martins - que, por ironia do destino, tem muitas obras assinadas como João Ninguém (em mais um momento de pura inspiração). E eu estou em busca de todas elas. Peço, gentilmente, que as pessoas que tiverem obras dele, por favor, entrem em contato comigo. Quero apenas as fotos para documentá-las. E caso não as queiram mais, gostaria de ficar com elas. O que não quero é que tenham o mesmo destino dado aos painéis do Hotel Glória. E talvez, num futuro, colocar à disposição numa fundação.

Quero agradecer imensamente a jornalista Claudia Feliz, que descobriu toda essa história através de uma mensagem minha no Facebook. Ela identificou a importância de publicar uma nota, sem a qual eu jamais saberia o trágico destino dado aos painéis do Hotel Gloria.

Atenciosamente

Rachel Martins

viagem.ag@gmail.com

@RachelMartins (twitter)

facebook.com/rachelmartins.vix